A vida como projeto: a pedagogia do homo economicus e as iniciativas de fomento ao “espírito do capitalismo” via educação pública
DOI:
https://doi.org/10.4013/csu.2019.55.3.01Resumo
O artigo toma por objeto a matriz simbólica que fundamenta um programa de “Educação Integral” idealizado por elites empresariais, que atualmente se dissemina pelo país por meio da atuação de organizações sem fins lucrativos ligadas ao universo corporativo, em “parceria” com diferentes instâncias estatais. Tal modelo de educação pública foi constituído com visões de mundo e valores próprios a agentes bem-sucedidos no universo econômico, os quais, a partir da autoridade simbólica conferida por seu “capital gerencial”, se outorgam um “papel pedagógico” no que enxergam como uma reforma das disposições à ação de estudantes de escolas públicas. A análise de tal pedagogia do homo economicus, assentada na noção de “projeto de vida”, trouxe elementos para esclarecer a agência da “filantropia corporativa” no modelo de “educação integral” em expansão. A concentração de capital econômico, político, social e simbólico de elites econômicas permite que elas transformem iniciativas ancoradas em suas visões de mundo em políticas públicas de escopo nacional. Elas buscam construir determinadas disposições econômicas via educação pública e, como atribuem o “sucesso” à vontade racionalmente executada, negligenciam as condições sociais do engendramento de tais disposições. Logo, se as iniciativas analisadas se inserem no contexto de uma racionalidade mais ampla - chamada, por concisão, de neoliberal -, elas têm artífices privilegiados e carregam as marcas de um ethos específico, que se quer, porém, como universal ou ao menos universalizável. Contudo, o homo economicus, se existe, é histórico e marcado por dinâmicas de classe, no seio das quais alguns agentes se atribuem o desenho e a consecução de políticas em que outros agentes são pensados como aprendizes de um ethos enquanto nomos.
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