Chamada de Artigos

Vol. 60, nº 2 (mai-ago, 2024)

Chamada para o Dossiê  “Memória, conflitos e relações”.

 

Organizadores: Melvina Afra Mendes de Araújo (Unifesp/IFRA); Clayton Guerreiro (Unifesp/ Cebrap) e
Zacarias Chambe (UNIROVUMA/ Moçambique e Unifesp)

Data limite de envio dos artigos: 02/04/2024

O recurso à memória – baseada em fontes documentais, orais, produções
audiovisuais, literárias, midiáticas etc. – tem ancorado movimentos sociais
contestatórios das versões oficiais sobre os processos de independência dos recentes
Estados africanos e sido mobilizada para a veiculação de estratos do passado colonial e
sustentação de práticas e representações pós-coloniais (Ciarcia, Fouéré e Mottier, 2021).
Esses diferentes suportes da memória têm sido interpretados como fontes de
posicionamentos políticos hodiernos a partir de reflexões sobre o passado (Fouéré,
2010) ou como recursos de legitimação de projetos de construção de identidades
nacionais e etnolinguísticas (Charton, 2011), por exemplo.

Disputas em torno de versões sobre processos de lutas pela independência
colonial ou outros movimentos revisionistas de narrativas históricas estabelecidas
apontam para a necessidade de observação de processos relacionais que criam, recriam
e são gerados por diferenças e desigualdades (Brah, 2006; Powell, 2013; Spies, 2019;
Das, 2020), assim como para a necessidade de se atentar para a associação de fatores de
diferenciação (Crenshaw, 1991; Brah; Phoenix, 2004; Brah, 2006) que têm implicações
no acesso a bens, gerando “regimes de desigualdade” (Costa, 2012; 2019; Brubaker,
2015).

Assim sendo, tão importante quanto a emergência de memórias e os processos
de apagamento ou esquecimento são as performances, as disputas por legitimidade
social e política (Bittencourt, 1999; Paredes, 2015), os processos de diferenciação e os
contextos em que se dão as performances e relações entre os diferentes atores
envolvidos na produção dessas memórias e esquecimentos.
Disso decorre que as análises das narrativas sobre o passado não devem
prescindir de um olhar atento para as relacionalidades (Butler, 2004; Spies, 2019) que
engendram esses discursos, uma vez que elas podem contribuir tanto para processos de
diferenciação quanto para a produção de desigualdades.

Tendo essas discussões como ponto de partida, o dossiê pretende abordar
debates teórico-metodológicos em diferentes contextos sociais, históricos e geográficos,
bem como propostas de análise sobre problemas contemporâneos relativas à memória,
conflitos e relacionalidades, reunindo pesquisadoras/es que se dedicam a refletir sobre
esses contextos. Esperamos receber propostas que pensem as memórias como efeitos de dinâmicas relacionais que envolvem pessoas e grupos em negociações e conflitos
diversos, sejam eles políticos, econômicos, religiosos, identitários, patrimoniais, entre
outros. Podem envolver guerras, processos de independências, constituição de Estados,
produção de identidades nacionais, disputas étnicas, regionais e religiosas, movimentos
de reinvindicação por justiça e reconhecimento e processos de diferenciação social,
entre outros temas.

 

Os artigos submetidos para o dossiê devem vir com essa informação nos comentários aos editores. As submissões, que passarão por avaliação duplo cega por pares, devem observar as Diretrizes para Autores e ser realizadas pelo site da revista. https://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/index